Capítulo
1
-Leo, meu filho, desça para jantar.
-Já vou Mãe, só um momento.
Leonardo até certo tempo adorava
esses momentos com os pais, por tradição almoçavam e jantavam juntos,
aproveitava pra contar-lhes sobre seu dia, sobre novidades da escola, porém ultimamente
esses momentos foram ficando cada vez mais perturbadores. Seu pai agora vivia
lhe criticando e apontando o quanto ele havia se tornado o filho que nenhum pai
gostaria de ter, sua mãe tentava aliviar as situações, mas nem sempre conseguia,
e as refeições terminam de maneira desagradável:
-Até que enfim, pensei que deixaria
sua mãe e eu esperando aqui a vida toda.
-Que exagero pai já estou aqui, não precisa ser tão grosso.
- Leo, por favor, respeite seu pai.
-Aff mãe e a mim, ele não tem que
respeitar?
-Vocês dois já estão passando dos
limites, não há um só dia em que vocês não discutam.
-Culpa do seu filho, que resolveu
nos humilhar publicamente.
-Humilhar, eu só...
-Leo, por favor, não é hora de
vocês conversarem sobre esse assunto, vamos por gentileza jantar em paz.
-Sim mãe, vamos jantar em paz,
vocês aqui e eu em outro lugar.
Leo rompe a sala de jantar
atravessa a sala de visitas e sai em disparada para lugar nenhum, sentia tanta
magoa do pai que até doía, sentia seu coração sangrar, sem que pudesse
controlar as lagrimas rolam pelo seu rosto, esvaziando sua alma, quantas coisas
gostaria de falar, gostaria de explicar-lhe, se pelo menos ele se permitisse
ouvi-lo, mas infelizmente continuava irredutível, preso a convenções e a
princípios que a cada instante os afastava cada vez mais.
Absorvido em pensamentos nem
percebe que esta indo de encontro com outra pessoa que vêm em direção oposta a
sua, e este por sua vez entretido no celular também não percebe a aproximação
de Leo. A trombada foi tão forte que o celular de Pedro é lançado a alguns
metros de distancia e se divide em pedaços ao tocar o chão.
-Nossa, desculpa não havia visto
você.
-Imagina cara, eu também não te vi.
- Pedro solta uma gargalhada que causa um certo desconforto em Leo.
-Que foi, que há de engraçado em
duas pessoas se chocando?
-Bom, você não vai acreditar mais
estava em uma ligação com uma menina, só que não estava mais aguentando
conversar com ela, estava distraído justamente pensando em uma maneira não
muito grosseira de desligar, eis que surge você e resolve – Pedro não se contem
e solta mais uma gargalhada – Obrigado cara, o desculpa, que falta de educação,
meu nome é Pedro, prazer.
-Prazer Pedro, meu nome é Leonardo,
mais todo mundo me chama de Leo, que dizer chamavam, afinal me mudei a pouco
tempo, e não conheço muitas pessoas por aqui,
e antes que eu me esqueça, por nada pelo telefone, precisando – Dessa
vez é Leo que não se contem e dos dois caem na risada.
-Leo, posso chamá-lo assim?
-Claro.
-Então Leo, tenho que ir minha mãe
esta me esperando para jantarmos, e já estou atrasado.
-Imagina que isso, não quero
atrasá-lo mais, eu também vou indo estou a procura de um lugar para jantar
sabe, uma lanchonete ou algo assim.
-Pior que por aqui você não vai
achar, as mais próximas estão a uns 15 minutos de carro, alias pra chegar aqui
você deve ter caminhado um bocado.
-Pois é nem percebi o quanto andei,
então acho melhor eu voltar para casa.
-Concordo, e também não é seguro
você esta andando por ai sozinho, é meio que perigoso para esses lados, quer
que eu te acompanhe até um ponto de ônibus?
-Bom, agradeço pela preocupação
mais dispenso, mal o conheço e já esta me chamando de criança indefesa.
-Calma Leo só quis dizer que...
-Leonardo, por favor, meu nome é
Leonardo, mais deixa isso pra La, já estou indo, boa noite.
-Boa Noite.
Leo, não se conformava, além de ter
que aturar o pai, agora era obrigado a escutar um estranho lhe chamando de
criança, sua raiva, que havia diminuído, aumentara agora com mais força, mas
estava mesmo era preocupado em chegar em casa, provavelmente encontraria a mãe
em prantos, fruto de mais uma discussão com o pai, por sua culpa, porque não
conseguia simplesmente escutar os desaforos dele e ficar calado, porque não
conseguia ser mais paciente, porque não conseguia parar de descontar suas
frustrações nos outros, ao pensar nisso recorda-se o quão estúpido foi com
Pedro, a raiva que havia explodido em seu peito agora se transformava em
remorso, não teria a chance de se desculpar, e analisando melhor percebia que
ele só estava tentando o prevenir, mas sua cabeça dura não permitiu que
enxerga-se isso na hora, mas logo parou de pensar nele, afinal seria improvável
que se vissem de novo, e voltou seus pensamentos para casa, dessa vez faria
diferente, escutaria tudo e subiria para seu quarto, em silêncio, sem retrucar,
sem reclamar, seus pensamentos são interrompidos por uma luz forte que vem em
seu encontro, era o ônibus que segundo informações de pessoas que estavam no
ponto, iria passar perto de sua casa, até agora estava abismado de o quanto
havia andado.
Ao chegar em casa viu a cena que
havia passado e repasso um milhão de vezes em sua cabeça, sua mãe chorando no
sofá e seu pai ao pé da escada balançando freneticamente o pé contra o chão, o
que indicava que estava muito bravo.
-Moleque, é isso que você é, um
moleque, como você deixa sua mãe e eu falando sozinho e sai de casa desse
jeito, você não conhece direito essa cidade, não sabe dos perigos que estão ai
fora, não pensa na sua mãe, não pensa em mim, ligamos dez milhões de vezes no
seu celular, que alias não sei porque tem, se vive na caixa postal, onde você
estava, não bastava nos matar de desgosto agora vai nos matar de preocupação
também, diga alguma coisa.
Leo sentiu seu sangue ferver nas
feias, queria colocar para fora tudo que estava engasgado na sua garganta, mas
se conteve, no fundo sabia que seria em vão, já que a magoa do pai falaria mais
alto e não permitiriam que tivessem um conversa amigável, em vez de discutir
simplesmente deu um beijo na mãe e subiu para o quarto, o que provocou ainda
mais a ira do pai, que berrou enquanto ele subia as escadas, exigindo volta-se e não o deixa-se novamente
falando sozinho.
-Esta vendo Bruna, o que seu filho
esta fazendo conosco, isso tudo é culpa sua que não educou direito esse menino,
desde que nos falou dessa porqueira que ele se tornou vem agindo dessa forma.
-Ora faça o mil favor, acontece
Eduardo que você não enxerga que essas atitudes são uma resposta das atitudes
que você tem para com ele.
-Agora quer dizer que a culpa é
minha, ele nos envergonha, joga nosso nome no lixo e a culpa é minha.
-Acontece que não há culpa aqui,
você esta mais interessado em saber de quem é a porcaria da culpa, e esta
esquecendo em saber como está seu filho.
-É por isso que ele se tornou isso
que é, por que você o encheu de manias, de sentimentalismo de mulher.
-Com você é impossível manter uma
conversa civilizada, so gostaria de saber onde se perdeu o meu Duda, aquele
homem carinhoso, amoroso, apaixonado pela família.
-Se perdeu no mesmo lugar onde a
Bruna que eu me casei se perdeu, a Bruna companheira, que concordava em tudo
comigo.
-Quer saber fica ai com suas murmurações,
vou dormi amanha acordo cedo.
Bruna não aguentava mais essa
situação, não suportava ver seu marido tratar se único filho daquela maneira,
ela sabia que ele estava frágil e precisava de carinho e amor, mais a
arrogância do marido esta sufocando não somente a Leo, mas a ela também, e isso
a fazia sofre e muito, afinal queria sua família de volta, a família que se
amava e conversava, daquele jeito que estava não dava para ficar, teria que
tomar alguma atitude, e rápido, antes que tudo aquilo que havia construído
fosse destruído.
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